#06: rotas de fuga (para sonâmbulos)
Esse ano eu fiz a minha primeira instalação, meu trabalho mais ousado e relevante até aqui talvez? Eis um post-mortem do Rotas. O que foi bom, o que foi ruim e o que podia ter sido diferente.
Oi amigos inscritos no flores dormem! tudo bem? tiveram um bom natal? Queria começar dizendo que gosto muito de ter pessoas inscritas nesse cantinho mais íntimo aqui e que tenho planos de voltar a ser mais ativo oficialmente agora vai por aqui, onde me sinto mais livre pra falar, ou melhor, escrever.
O meu ano artístico de 2024 pode ser facilmente resumido em duas grandes produções, ambas estreias de alguma forma. A primeira, o videoclipe de "Águas Poluídas", da Luneta Mágica, que eu falei sobre aqui na edição anterior da newsletter.
Já a segunda, e até mais importante pra mim pessoalmente, foi a instalação "Rotas de Fuga (para Sonâmbulos)", que aconteceu em Manaus entre os meses de setembro e outubro.
Apesar de existir implicitamente no meu processo desde 2018 (eu fotografava com propósitos desconhecidos, mas mirando sempre fazer algo disso), eu vim conceber a série "Fuga (para Sonâmbulos)" oficialmente em junho de 2023. Isso se deve talvez ao fato de que eu me sinto muito atraído pela fotografia como um instrumento para expor narrativas - tanto que o fotolivro é a minha forma favorita de consumir fotos. Então, inquieto, eu sentei, e tentei curar dentro do meu trabalho uma seleção das minhas imagens, identificando alguns temas básicos (noite, sonho, festa, luz solar, natureza).

Em pouco tempo, percebi uma narrativa implícita ali naquela seleção. Três mini-séries surgiram, e eu tinha ali formado o conceito para um livro intitulado "Métodos de Fuga (para Sonâmbulos)", que era dividido nessas três séries (ou capítulos) menores:
"Finda, noite", "Dois terços de um sonho" e "Tem outro gosto viver".
Com essa ideia em mente, fui tentando colocar em prática o livro, eu e Clara Nogueira começamos a brincar com o sequenciamento desse livro, fiz reuniões com Paulo Maciel para pensar no design do livro, e também passei a trabalhar com a Gabrielli Loys, que pouco tempo depois me ajudou a curar o "tem outro gosto viver", realizado ano passado.
Em seguida, procurei financiamento por editais, sendo essa a minha primeira vez escrevendo projetos. Tentei aprovar o livro no edital "Retomada", da Funarte, não fui selecionado. Tentei também na Rouanet Norte, não passei. Enquanto esses resultados não saiam, fui meio otimista e achei que podia tentar passar outra ideia na Lei Paulo Gustavo do município.
E foi assim que a ideia expositiva desse trabalho tomou forma e o conceito do livro se materializou na instalação “Rotas de Fuga (para Sonâmbulos)”, que até hoje foi a única forma a qual esse trabalho se apresentou ao público, contemplado na Lei Paulo Gustavo municipal de Manaus em 2023.
Me juntei a quem já estaria comigo no livro, como Clara Nogueira na produção e Paulo Maciel. A Loys curou essa instalação e também se juntaram a mim o Victor Neves na trilha sonora (pensamos em utilizar de live coding como técnica para ambientação - no fim, nós criamos toda uma performance que rolava ali ao vivo, junto a um vídeo, intitulado “dois terços de um sonho”) e também a NATU, responsável por ilustrações e projeções.
Acima, você pode assistir a uma das animações que atuam como intervenções em minhas fotos que NATU criou. O título é “fora de hora” e interage com uma foto presente no “Finda, Noite”.
Fun fact sobre ela, nós estudamos juntos no ensino médio lá na bela escola estadual senador petrônio portella, uma amizade de 10 anos que ainda não havia trabalhado criativamente juntos.

Essa linda equipe se reuniu logo ao início do ano, e apesar desse ser o nome da newsletter, nem tudo foram flores dormindo. No começo eu procurei algumas formas de gerenciar o projeto (do Notion ao Miro, do Grupo de Whatsapp ao Craft) e fazer as coisas andarem e acho que no fim não existe uma fórmula mágica. Eventualmente as coisas andaram, procuramos alguns lugares "ideais" e tá aí outra coisa que é difícil. Eu, nos meus sonhos, esperava algumas coisas de um local ideal, como:
três ambientes (sendo o último ao ar livre, reforçando a ideia da nova vida solar pós-pandêmica do "tem outro gosto viver");
De fácil acesso, como o centro da cidade;
Com estrutura confortável o suficiente pra receber a moçada;
Não queria nada também né! Mas ser exigente no começo foi importante pra encontrar um local mais próximo disso (que no fim também se mostrou cheio de pontos negativos). Visitamos alguns prédios públicos como o Palacete Provincial e o Palácio Rio Negro, além da Galeria do Largo. No fim, analisamos por horas em reunião os prós e contras e ficamos com a Galeria Manaós, local em que a Gabi trabalhava na época e tava fácil de negociar/utilizar nos nossos termos.
A divulgação teve o uso de posts feitos pelo Paulo, com uma identidade visual a qual eu fiquei muito feliz (a troca com ele foi muito boa, foi simples transmitir as ideias para que ele pudesse construir essa linda estética pro Rotas) e também de algumas animações feitas pela NATU. A parte que mais trouxe pessoas para o perfil do Instagram da instalação foi este reels que fizemos, apresentando adesivos grudados ao redor do centro de Manaus, cada um contendo um frame de uma animação da NATU. Eu filmei, montei e colori esse vídeo, o Paulo me ajudou a colar. Foram algumas primeiras vezes nesse processo:
meu primeiro vídeo com a Fujifilm X-S20 (a minha câmera digital para trabalhos, disk);
Minha primeira vez turbinando posts no Instagram;
Primeira vez utilizando um formato mais viral pra algo em redes sociais, o que se mostrou bem-sucedido nesse caso (na época do IGTV eu fazia conteúdos que podem até lembrar alguns reels de hoje em dia, mas acho que errei o timing).
Você pode ver o tal do reels abaixo ou nesse link.
Adotamos uma estratégia de sessões para a instalação, uma vez que o aspecto ao vivo era importante para mim e Victor exibirmos a nossa colaboração, “Dois terços de um sonho”. Soma-se isso também ao fato de a galeria não ter nenhum funcionário disponível para nós em outros dias (difícil de explicar o “funcionamento” desse lugar), acabaram sobrando apenas os sábados, que era o dia possível para mim e a equipe, já que a parte menos interessante da minha vida* ocupa 50% do meu tempo acordado.
*(um emprego que lentamente me mata, frequente pauta na terapia e quem sabe um dia aqui da newsletter. Mas hoje, ele paga as contas).

No fim, essa ideia de reserva de ingressos gratuitos mostrou-se um sucesso. A gente esgotou 100% dos ingressos antes mesmo da estreia, e pode ter uma noção de quantas pessoas iriam comparecer. Claro, após entender o espaço e o que tínhamos, foi possível fazer flexibilizações e se você me mandasse alguma mensagem, certamente ganharia um convite que serviria como ingresso.

E então, chegou o aguardado dia da estreia da instalação. Medo e trabalho até o último segundo, diversas ansiedades porque esse formato não é tão-convencional em Manaus até o momento (e ele mistura ideias e propostas diferentes); um medo também de exibir a parte vulnerável do meu eu, que se faz presente ali, naquela narrativa. Um medo de ninguém ir, o que é pior do que não gostarem. Além do medo da performance, onde eu e Victor estávamos propondo que as pessoas sentassem para assistir um vídeo por uns 10 minutos em um mundo tão acelerado?
Estes medos, apesar de justificáveis, não se concretizaram. Tivemos casa cheia em todas as sessões do dia (ao todo, durante o período de exibição, mais de 210 pessoas visitaram a instalação), além de vários finais de semana lotados.
Cada troca com as pessoas que visitaram foram muito especiais, sinto uma validação especial no que tange aos meus sonhos quando vejo que há pessoas que acreditam no meu potencial artístico. Foi ótimo concluir algo, sonhar, planejar, ganhar uma grana pra fazer isso acontecer e construir aquilo. Sou grato a toda a equipe (clica no nome deles ao longo do texto pra conhecer mais do trabalho deles, por favor!), a todo mundo que visitou, e mal posso esperar para ter as minhas obras por aí, e poder colaborar mais com quem admiro.









No fim, ficam as coisas boas e os aprendizados, acho que posso dizer certamente que uma forma mais definida na agenda, com quantidade de reuniões e tarefas é importante pra próximas. Aprender melhor a delegar as tarefas é importante. E por último, o local perfeito não existe. Gostei muito do ambiente que construímos, mas pelo trabalho que eu e outras pessoas da equipe tivemos que fazer que não nos cabia, certamente minhas exigências profissionais do que esperar de uma galeria aumentaram.
E caso você queira saber/ver/entender mais sobre a instalação e as obras que a compõem, falei um pouco sobre ela nessa entrevista abaixo (ou no link):
E foi isso, eterno obrigado se você visitou o Rotas, e caso não tenha, talvez esse não seja o fim.
Abraços gente! Eu quero muito que esta não seja a última newsletter de 2024 - tô sempre cheio de ideias e quero não só escrever mais como me fazer mais presente e aberto aqui pra vocês em 2025. Gostaram dessa edição? Vou adorar ler comentários abaixo ou por e-mail <3
Oi Mário nelson, te amo menino!! Fico morrendo de orgulho de te ver todo lindo de mullet fazendo arte (pareço uma tiazona falando mas idai eu sou mesmo tia fancha do Wagner Francisco) e egualhe acho mt incrível esse teu exercício de autoescrita compartilhada, parece que to dentro da tua cabeça genial. E tua cabeça é genial mesmo, sempre bom lembrar.
Te amo, logo em breve vou tá aí te dando um abração de tia fancha emocionada, um bj ❤️
Muito gostoso ler e relembrar esse trabalho especial <3